por Alberto Lima
Enganam-se as pessoas que pensam que o casamento é hora de sossegar, que a sedimentação da relação garante, por si só, a sua sobrevivência. Se não for cultivado diariamente, com pequenos e também grandes gestos de atenção, o relacionamento se acomoda, o sexo esfria, o entusiasmo vai embora. A disposição para o cuidado com o outro é que mantém a chama acesa.
Tudo começa movido pelo elemento fogo: é paixão! Arrebatadora! Corações em brasa, corpos ardentes, disponibilidade total, olhares enamorados, admiração mútua…
Uma beleza! Ele e ela foram bem-sucedidos na conquista e entendem que o amor se instalou inexoravelmente. Casam-se, então, e, no momento em que firmam esse compromisso, tornam-se irremediavelmente “felizes para sempre”!
Com o passar do tempo, o fogo abranda e o gráfico da paixão ameaça raspar na base do papel. O entusiasmo arrefece, o envolvimento se afrouxa, o olhar já não pousa sobre os olhos do outro. Os beijos já não são ardentes e dão lugar a protocolares bicotas. O sexo deixa de ser tão frequente, parece não suscitar o mesmo élan.
E a motivação para os programas a dois diminui.
A vida é assim, certo?
Errado. E o erro está em acreditar que a manutenção de um casamento__e do fogo, claro__seja algo automático, que deveria decorrer naturalmente do simples fato de a relação ter-se sedimentado.
Uma relação amorosa é um grande desafio. O jogo começa quando se pensa que terminou (com a efetivação da união).
Não se sustentará, a menos que seja vivido como um constante exercício de conquista.
Amor é labor. E há de ser assim, ou perecerá.
Nada na vida funciona bem, a menos que se renove. O banho precisa ser tomado com cuidado todos os dias. O alimento precisa ser preparado novamente, com o mesmo capricho. O filho precisa ser levado a dormir e deverá ouvir um conto de fadas, de novo e de novo, todos os dias, ou não se estruturará como sujeito íntegro, com fé na vida e capaz de, a exemplo dos pais, saber renová-la a cada dia, em todos os instantes de seu futuro.
A renovação da conquista é tão importante quanto reafirmar a escolha amorosa.
Nenhuma dessas duas coisas se pode pressupor como automaticamente presente, ou natural em uma relação. Para que uma casa fique firme, é preciso construir as paredes, tijolo por tijolo, instalar o telhado, telha por telha, cuidar do acabamento e, finalmente, não deixar de lado a manutenção. Se a casa da união não recebe a energia cuidadosa de quem a botou no mundo, tende a “adoecer” e pode ruir.
Para conquistar o parceiro, a parceira, tudo de que se necessita é disposição pessoal para o cuidado. Regar a planta, remover as ervas daninhas, nutrir. A saladinha de alface com tomate de todos os dias pode ser enfeitada com estrelas de carambola, ou com iscas de pêssego. Pode ser servida em travessas diferentes, com alguma arte. Ele__ou ela__perceberá o cuidado, experimentará gratidão e verá renovar-se no peito o bem querer.
Quando chegar em casa à noite e for tomar o seu banho, ele pode fazer a barba uma vez mais; ela apreciará o gesto.
Ela pode escolher a roupa que vai vestir, em lugar de aproveitar aquela camisetinha básica “que nem estava cheirando a usada”; ele saberá.
Quando um percebe que foi considerado pelo outro - e geralmente o significado disso está em que um cuidado foi tomado e um tempo de dedicação foi empregado -, isso é o que basta para que se renove o sentimento de bom gosto na escolha de parceria! “Ah, como é bom meu amor importar-se comigo e tratar bem de mim”. A chama amorosa se renova e dá sustentação à continuidade e ao crescimento do vínculo e do prazer de vivê-lo.
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